
De acordo com o diretor de Novos Negócios da Casa dos Ventos, Lucas Araripe, desde 2018, a empresa tem um braço de “soluções para o ACL (ambiente de contratação livre)”, dedicado a desenvolver produtos e contratos customizados para grandes consumidores e negociar novos contratos. A negociação com a Vale é um resultado dessa estratégia.
Agora a empresa está negociando contratos e acordos em moldes similares para o projeto potiguar, que deve entrar em operação em 2021, um ano após o complexo baiano. “Temos contato com consumidores para celebrar contratos de longo prazo. Como o projeto está dividido em SPE, é possível dar o benefício da escala para clientes menores”, comenta o executivo. Parte da energia do projeto do Rio Grande do Norte, 31,5 MW médios, também foi negociada no A-6 de 2018.
Para Araripe, as mudanças em curso no mercado livre, como a faixa menor de consumidores especiais e a introdução do preço-horário, não devem afetar significativamente a atratividade desses contratos. “O preço horário vai afetar projeto a projeto. Esse do RN, por exemplo, tem uma geração bem constante ao longo do dia. E nós vamos precificar o risco, ver o que vai custar para nós. Precificamos isso e não deixamos o risco com o consumidor”, comenta.
Ele lembra que, por outro lado, está em curso também a redução do teto para se tornar autoprodutor, que ampliará o número de empresas elegíveis. O modelo de autoprodução foi adotado no caso da Vale, com a vantagem de garantir isenção de encargos setoriais, e também é parte da negociação da Casa dos Ventos com outros consumidores.
Operação com a Vale
Nesta quinta-feira (17/01), a companhia detalhou a operação fechada com a Vale para o fornecimento de energia do parque eólico Folha Larga Sul, localizado em Campo Formoso, na Bahia. Com potência instalada de 151,2 MW, o projeto deve iniciar a operação em 2020. Com a Vale, o compromisso é de entrega por 20 anos, a partir de 2023. Parte do projeto foi negociada no A-6 de 2018 (16,2 MW médios), também com entrega a partir de 2023.
A energia gerada nos três primeiros anos de operação foi negociada com diversos consumidores. “Foi um conjunto de offtakers. Com um prazo mais curto, tem uma liquidez maior para o produto, buscamos vender para diferentes contrapartes, para diversificar o risco” comenta Araripe.
Pouco antes do leilão A-6, a companhia já estava realizando rodadas de negociações diretas com consumidores ou comercializadoras, o que contribuiu para o projeto ofertar as tarifas mais baixas da concorrência, de R$ 79/MWh.
O investimento de R$ 750 milhões no complexo é de responsabilidade da Casa dos Ventos. A empresa já contratou um financiamento de R$ 550 milhões com o BNB para o projeto. Esta é a primeira operação fechada pela empresa com o banco regional. De acordo com Araripe, a celeridade nas análises e negociações foi um ponto positivo no acordo com o BNB. O projeto não terá participação do BNDES, mas os aerogeradores de 4,2 MW cada, fornecidos pela Vestas, cumprirão com todos os requisitos de nacionalização.
Além de fechar um PPA privado, com duração de 20 anos, a Vale tem a opção de se tornar sócia no projeto. A demanda da Vale seria de aproximadamente 60% da produção de energia do complexo. Mas a companhia tem a opção de adquirir uma participação de até 100%.
“Hoje, cerca de 60% de toda a energia que consumimos no país é de autoprodução, vinda de fontes renováveis”, diz o diretor de Suporte aos Negócios da Vale, Alexandre Pereira. A meta é aumentar isso para 100% até 2030.
“Desenvolvemos um modelo sob medida, no qual somos responsáveis pela construção e operação do empreendimento, tendo no nosso parceiro a possibilidade de, no futuro, tornar-se acionista do ativo, gerando sua própria energia na modalidade de autoprodução”, comenta Araripe.
Se enquadrar como autoprodutor garante mais um fator de competitividade para a Vale no negócio, já que esse tipo de agente é isento de encargos setoriais como a CDE. O contrato de longo prazo também garante previsibilidade.
Novas tecnologias e negócios tradicionais
De acordo com Araripe, a Casa dos Ventos vai estudar a participação em futuros leilões para o mercado regulado e continua atuando como desenvolvedora que pode negociar projetos com outros grandes geradores.
Além disso, a empresa também se prepara para a adoção de novas tecnologias como o armazenamento de energia com baterias, algo que pode se tornar mais atrativo com o preço-horário. “Temos estudado bastante. Sempre analisando outras formas de nos tornarmos mais competitivos nesse ambiente, que tem mais necessidade de flexibilidade”, comenta o diretor. Ele lembra que, além de contribuir para a maximização de receita de contratos de geração de energia, as baterias também podem ser remuneradas prestando serviços ancilares, algo que ainda depende de regulação. A empresa também estuda a integração com a fonte solar, tendo projetos isolados e adjacentes aos seus parques eólicos.
PPAs renováveis: uma tendência mundial
Segundo a Bloomberg New Energy Finance (BNEF), até setembro de 2018, os novos PPAs bilaterais de eólica e solar totalizavam 8,4 GW de potência instalada no mundo, representando aumento de 70% em relação a 2017, quando 5,4 GW foram viabilizados nesta modalidade. De acordo com o relatório do International Renewable Energy Agency (IRENA), em 2018, o fornecimento corporativo de energia limpa ultrapassou 465 TWh, montante correspondente à demanda total de eletricidade da França.
Fonte: Brasil Energia